sábado, 5 de março de 2011

Eliake

Uma vez sentado às sombras de um carvalho, o insensato pensador acreditou ter descoberto o amor, ter entendido as ambigüidades e contratempos da amizade, seguido o viés da traição, saboreado a doçura da saudade e sentido o calor da paixão. Devaneou durante séculos sobre essas crenças e deixou de contemplar e viver a realidade. Quando despertou do mundo onírico que deixava em brumas sua percepção real, fez jorrar um rio de lágrimas ao saber que todo esse tempo não fez nada a não ser alimentar uma fera que se esforçava e mantinha-se tendenciosa a devorá-lo a cada momento. Tal fera, fruto de toda sua crença e admiração, passou a ser sua única companhia. Juntos desbravaram os mais inóspitos lugares. Ouviram os retumbantes sussurros das folhas tempestuosas da floresta de seus pensamentos. Venceram as barreiras da existência. E tentaram organizar, mesmo com a hostilidade de ambos, o templo do conhecimento. Um dia, porém, a fera rebelou-se, jogou por terra toda a máscara de sua inocência e num ato simbólico, procurou refugar seus passos no vapor do horizonte. O vale das sombras foi almejado como seu lar. Hades passou a ser seu novo amo e seus intentos orquestrados para a destruição do cretino pensador. Hoje, não se sabe bem ao certo onde ambos se encontram. Constantemente se cruzam em seus caminhos e até desfrutam da lembrança um do outro quando seus olhares se batem em relance. Um dia talvez ambos consigam alcançar seus ultrajantes objetivos. Lamentos existirão quando um deles perecerá... Pois, a presença de um e o fim do outro será o caos para a harmonia da existência...