sábado, 5 de março de 2011

Eliake

Uma vez sentado às sombras de um carvalho, o insensato pensador acreditou ter descoberto o amor, ter entendido as ambigüidades e contratempos da amizade, seguido o viés da traição, saboreado a doçura da saudade e sentido o calor da paixão. Devaneou durante séculos sobre essas crenças e deixou de contemplar e viver a realidade. Quando despertou do mundo onírico que deixava em brumas sua percepção real, fez jorrar um rio de lágrimas ao saber que todo esse tempo não fez nada a não ser alimentar uma fera que se esforçava e mantinha-se tendenciosa a devorá-lo a cada momento. Tal fera, fruto de toda sua crença e admiração, passou a ser sua única companhia. Juntos desbravaram os mais inóspitos lugares. Ouviram os retumbantes sussurros das folhas tempestuosas da floresta de seus pensamentos. Venceram as barreiras da existência. E tentaram organizar, mesmo com a hostilidade de ambos, o templo do conhecimento. Um dia, porém, a fera rebelou-se, jogou por terra toda a máscara de sua inocência e num ato simbólico, procurou refugar seus passos no vapor do horizonte. O vale das sombras foi almejado como seu lar. Hades passou a ser seu novo amo e seus intentos orquestrados para a destruição do cretino pensador. Hoje, não se sabe bem ao certo onde ambos se encontram. Constantemente se cruzam em seus caminhos e até desfrutam da lembrança um do outro quando seus olhares se batem em relance. Um dia talvez ambos consigam alcançar seus ultrajantes objetivos. Lamentos existirão quando um deles perecerá... Pois, a presença de um e o fim do outro será o caos para a harmonia da existência...

sábado, 7 de agosto de 2010

Desiderata

A vida não é um placar. O importante não é quantas pessoas telefonam para você, nem com quem você saiu ou está saindo. Também não importa se você nunca namorou ninguém. O importante não é quem você beijou, que menino ou menina gosta de você. O importante não são seus sapatos, nem seus cabelos, nem a cor da sua pele, nem onde você mora, que esporte pratica ou o colégio que frequenta. Na verdade, o importante não são suas notas, seu dinheiro, suas roupas ou se passou ou não na faculdade. Na vida, o importante não é ser aceito ou não pelos outros, não é ter muitos amigos ou estar sozinho. Na vida, nada disso é importante.
O importante na vida é quem você ama e quem você fere. É como você se sente em relação a si mesmo. É confiança, felicidade e compaixão. É ficar do lado de amigos e substituir o ódio por amor. O importante na vida é evitar a inveja, não querer o mal dos outros, superar a ignorância e construir a confiança. É o que você diz e o significado de suas palavras. É gostar das pessoas pelo que elas são e não pelo que têm. Acima de tudo, é escolher usar a sua vida para tocar a vida de outra pessoa de um jeito que a fará mais feliz. O importante na vida são essas escolhas.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Desejo a Você...meu amigo.

“Desejo, primeiro, que você ame, e que, amando, também seja amado. E que, se não for, seja breve em esquecer. E que, esquecendo, não guarde mágoa. Desejo, pois, que não seja assim. Mas se assim for, saiba ser sem desesperar. Desejo também que tenha amigos, Que, mesmo maus e inconseqüentes, sejam corajosos e fiéis. E que, pelo menos, num deles você possa confiar sem duvidar. E, porque a vida é assim... Desejo ainda que você tenha inimigos. Nem muitos, nem poucos, Mas na medida exata para que, algumas vezes, você se interpele a respeito de suas próprias certezas. E que, entre eles, haja, pelo menos, um que seja justo, para que você não se sinta demasiado seguro. Desejo, depois, que você seja útil, mas não insubstituível. E que, nos maus momentos, Quando não restar mais nada, essa utilidade seja suficiente para manter você de pé. Desejo, ainda, que você seja tolerante, não com os que erram pouco, porque isso é fácil. Mas com os que erram muito e irremediavelmente, e que, fazendo bom uso dessa tolerância, você sirva de exemplo aos outros. Desejo que você, sendo jovem, não amadureça depressa demais; que, sendo maduro, não insista em rejuvenescer; e que, sendo velho, não se dedique ao desespero. Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e é preciso deixar que eles escorram por entre nós. Desejo, por sinal, que você seja triste, não o ano todo, mas apenas um dia. Mas que, nesse dia, descubra que o riso diário é bom, o riso habitual é insosso, e o riso constante é insano. Desejo que você descubra, com o máximo de urgência, acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos, injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta. Desejo ainda que você afague um gato, alimente um cuco e ouça o joão-de-barro erguer, triunfante, o seu canto matinal. Porque, assim, você se sentirá bem por nada. Desejo também que você plante uma semente, por minúscula que seja, e acompanhe o seu crescimento, para que você saiba de quantas vidas é feita uma árvore. Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro, porque é preciso ser prático. E que, pelo menos, uma vez por ano, coloque um pouco dele na sua frente e diga : "Isso é meu", só para que fique bem claro quem é o dono de quem. Desejo também que nenhum de seus afetos morra, por ele e por você, mas que, se morrer, você possa chorar sem se lamentar e sofrer sem se culpar. E, se tudo isso acontecer, não tenho mais nada a te desejar". Do poeta francês Victor Hugo

quinta-feira, 8 de julho de 2010

O Andarilho Solitário

Frio e sonolento era o olhar do andarilho que passou pela rua deserta naquele dia nebuloso de outono. Parecia contente com algo. Um mistério para aqueles que não podiam penetrar em seu íntimo. Um homem que andava, apenas. Seu rumo? Não se sabe até hoje... Sua origem? Ainda indecifrável. Mas o certo é que caminhava em busca de seus sonhos, se é que tinha algum... Cruzou o percurso de muitos e comumente deixava um alento de melancolia. Seu olhar impenetrável paralisava qualquer um que se atrevesse a dirigir-lhe a visão. O enigmático andarilho chamava por alguém, mas era impedido pelo fúnebre silêncio do ambiente. Andava e não se cansava de procurar maneiras de chegar a seu fausto destino. Nessa jornada, encontrou com pessoas que se disporam a ajudar-lhe, mas recusou o auxílio. Na verdade era forte e obstinado o suficiente para chegar sozinho onde queria. Se não o era verdadeiramente, chegava a ser em crença particular. Com o tempo a seu favor fez com que as portas se abrissem em sua presença. O céu tornou-se palpável. Sua existência, horrenda para uns, irônica para outros, soava como bizarra e sórdida para quem desejasse entender ou acompanhar seu rumo. Tudo isso não acrescentava em nada na vida do solitário andarilho, que continuava ordinariamente em seu errante labor. A esperança sustentava o viajante em seu objetivo. Heroicamente permanecia em seu rumo. A pé, de taxi ou de ônibus. Ele continuou a percorrer seu subjetivo destino com glória. Lembrava sempre das manhãs e tardes de buscas e encontros com coisas que não conhecia ou não sabia do paradeiro. Finalmente, o andarilho chega ao lugar idealizado. Drasticamente, porém, percebe que não era bem o que queria... Muda-se novamente... E como um nômade paleolítico, parte errante pelo espaço a sua frente. Em busca de algo que desconhece e que sente vital necessidade de possuir. O mais intrigante, porém, é que não teme decepcionar-se novamente. Quer apenas firmar sua passagem pelo mundo...

quarta-feira, 7 de julho de 2010

A verdadeira amizade

Você já parou para pensar sobre o que é a verdadeira amizade? A palavra “amigo” é usada de maneira muito ampla pela maioria de nós. Apresentamos como amigos os colegas de escola ou de faculdade; os colegas de trabalho, os amigos que conosco praticam esporte, ou aqueles com quem nos relacionamos em várias atividades. E é bom que assim seja, pois ao chamarmos de amigos, de alguma forma os aceitamos, e passamos a tentar conviver bem com eles. Mas será que esses são os nossos verdadeiros amigos? Será que nós somos os verdadeiros amigos dessas pessoas? Nossos verdadeiros amigos têm uma real conexão conosco. São aqueles que realmente gostam de nós e de quem nós gostamos verdadeiramente. O verdadeiro amigo nos aceita como somos, mas não deixa de nos dar conselhos para que mudemos, sempre para melhor. E nós aceitamos esses conselhos porque sabemos que vêm de quem se importa conosco. O verdadeiro amigo se alegra com nossas alegrias, com nossos sucessos, e torce pela realização de nossos sonhos. O verdadeiro amigo preocupa-se quando estamos tristes e, frente a situações difíceis para nós, está sempre disposto a ajudar. O verdadeiro amigo não precisa estar presente em nossas vidas todos os dias, mas sabemos que está ao nosso alcance quando sentirmos saudades, quando quisermos saber se ele está bem, ou quando precisarmos dele. Distâncias não encerram amizades sólidas, em uma época onde a comunicação é tão fácil. Mas, mesmo sem um contato constante, o sentimento de afeto não se abala. É do livro O pequeno príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, a famosa frase: Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Se cativamos um amigo, então somos responsáveis por essa amizade. Devemos saber retribuir as atenções e o carinho recebidos, com a mesma dedicação. Afinal, a real amizade é como uma estrada de duas mãos: nos dois sentidos os sentimentos são semelhantes. Com o verdadeiro amigo temos a chance de praticar o real amor para com o próximo, ainda tão difícil de praticar com todos, como Jesus recomendou. Temos a chance de praticar o perdão, pois nosso caro amigo tem o direito de errar como qualquer ser humano o tem. E, se errar conosco, que o perdoemos, pois amanhã talvez sejamos nós a pedir perdão. Jesus e Seus apóstolos formaram um grupo de dedicados amigos. Muitos deles, sem se conhecerem previamente, desenvolveram, naqueles curtos três anos da pregação do Mestre, uma amizade que duraria até o fim de suas vidas. Quando, após a morte de Jesus, se viram aparentemente sozinhos, ajudaram-se mutuamente, deram forças uns aos outros para a dura missão que teriam pela frente. Amigos são verdadeiros presentes que Deus nos dá. Muitas vezes são antigos companheiros de jornada que reencontramos, para que continuemos juntos, nos apoiando nesta nova caminhada. Não busquemos quantidade, mas, sim, a qualidade, certos de que a verdadeira amizade deve ser cultivada e cuidada como algo de real valor em nossa vida, algo que não nos pode ser tirado, e que levaremos conosco eternamente.

terça-feira, 6 de julho de 2010

O pequeno gigante

Ele saía de casa meio que sem destino, todos os dias à tarde. Voltava insatisfeito com o que tinha vivido naquele tempo ocioso. Acreditava não pertencer a esse mundo, afinal não se sentia parte dele. Sua essência ocupava um lugar ainda a ser descoberto. Por isso a razão de suas viagens cotidianas. Mas um dia, entre idas e vindas ocasionais, encontrou um grupo de pessoas um pouco estranho à sua realidade. Curioso, decidiu verificar melhor o que seria aquilo. O que faziam daquelas pessoas tema tão intrigante aos olhos daquele pequeno menino? Ele queria entender e talvez compartilhar daquilo que via. Aproximou-se como quem não queria nada. Sondou o ambiente e passou a sentir o desejo de integrar-se ao grupo. Aos poucos, fez-se notável. Mas não o bastante para imprimir nos outros o respeito que tinha por si mesmo. Porém, compactuante com o destino, agregou-se e fez-se visível, importante e imponente. Os olhos e mentes mais intrigantes quiseram o deturpar, mas a vontade do pequeno gigante o impulsionou para o cume. Ousou impor-se onde a razão não o encorajava. Entre desafios e lutas, tornou-se forte. A cada obstáculo se encouraçava com o brasão dos que o acolheram e passou a defendê-lo com todo seu vigor. Voar seria seu próximo sonho, nem que para isso fosse preciso recorrer a Ícaro e sua genialidade. Abriu olhos e ouvidos ao conhecimento dos primórdios. Crescia a cada dia e passou a conotar determinação. Como todo grande herói, enfrentou obstáculos os mais diversos. Conseguiu os ultrapassar seus limites com a ajuda de seus principais agregados, que adquirira por onde passou. O minúsculo guerreiro continuou a pelejar em sua conturbada, porém gloriosa vida. E conseguiu honrar seu nome e seu escudo. O grupo que um dia o hipnotizou com sua singularidade hoje o sustenta com seu vigor e poder. A grandeza do grupo que um dia atraiu o pequeno menino, hoje chama a atenção de outros futuros e promissores guerreiros, que já pelejam a favor do mesmo brasão, símbolo de união e força coletiva...

O caminhante

Sem se preocupar se haveria dificuldades pelo caminho, decidiu fazer o que era correto em seu julgamento. Levantou o olhar e o fixou em seus objetivos mais íntimos. Quando ninguém acreditava em seu potencial, ou não o percebia, em silêncio foi traçando seu destino. Sob lençóis e lágrimas que nunca chegaram a escorrer, sentia que tinha poder para voar e chegar cada vez mais longe. Conseguiu, sem saber, extrair admiração e respeito do ser mais intransponível que cruzou seu caminho. Sem perceber, agigantou-se em meio aos egos famintos que o cercavam e o devoravam a cada contato. Por dias a fio elaborou táticas de sobrevivência. Mantinha-se firme mesmo quando não tinha mais forças para erguer-se. Em sua simples jornada, aos poucos, cultivou brotos de valores. Porém, não há caminhos sem volta e acertos sem erros. Lamentavelmente, falhas também marcaram sua existência. Como os dissabores são mais incisivos que a bonança, muitos a sua volta perceberam apenas seus deslizes e os encararam como eternos. E acidentalmente, talvez, destruiu algumas centelhas de luz que, sozinhas ou em sua companhia, desejavam um dia brilhar e acalentar corações. Sua percepção de mundo, muitas vezes foi ofuscada pela sombra de seu ego, que se tornou mais faminto que os que outrora tentavam o devorar. Mesmo assim, os passos continuaram a ser dados. Entre tentativas e erros, foram-se construindo palácios inabitáveis. Suas marcas continuam cravadas na terra e seu perfume entorpece os mais ávidos por sabedoria. Um dia suas grandezas poderão ser admiradas por aqueles que habitam o vale dos desejos, e quem sabe, poderão hospedar-se em confortáveis templos.